AMOR

A minha tia tem trissomia 21. Para mim e para nós, nunca houve diferença, falamos com ela como falamos entre nós, da-mos-lhe raspanetes quando é preciso e só agimos de modo diferente perante algumas atitudes, típicas da doença. Dizem que a teimosia é uma delas. Mas conhecendo esse meu lado da família, não sei se não é desculpa... O que eu sei é que as pessoas com esta doença são do mais afetuoso que há e numa família onde somos todos um bocadinho brutos e distantes, a Ana é a pessoa mais meiga, com menos vergonha de usar as palavras "Gosto de ti", "Tive saudades tuas", "Fica mais um bocadinho" e que mais verdadeiramente expressa o amor que tem por nós. E tal como acontece com as crianças, nós acreditamos quando ela o diz, porque sabe a verdade.

No domingo foi o dia da mulher. Pessoalmente, é um dia que não me diz muito e nesse dia em particular, com a viagem de regresso a casa e por as coisas em ordem, passou-me completamente ao lado. Mas fui a casa dos meus pais e a Ana estava lá. Tinha oferecido uma flor à minha mãe (não sei se foi ideia do meu pai, se dela, não faço ideia e nem interessa) e não descansou enquanto a minha mãe não me mostrou. Estava super feliz por ter oferecido. Mas depois, caíu em si e sentiu que me devia também oferecer qualquer coisa. E este sim, foi um ato genuíno, só dela. Tinha na sua mala um coração feito em tecido, pequenino e amoroso, feito no centro onde ela anda. Pegou nele e deu-me. Sem mais, nem menos.

A expressão "O que conta é a intenção" não é um cliché. É a mais pura demonstração de amor.


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