São Tomé - Ilhéu das Rolas

Já passou mais de uma semana desde que regressei, mas nem por isso, me habituei às rotinas normais de casa-trabalho. Tudo tem sido feito devagarinho, como se tivesse trazido o "leve-leve" comigo. Para quem não sabe, esta é uma expressão e um modo de vida em São Tomé. Significa calma, sem stress, uma coisa de cada vez.

Chegar a São Tomé nesta altura do ano é equivalente a uma prova de esforço. Só existe um voo direto que parte à meia noite de Lisboa. Depois são 6h de viagem. O que até seria bom, se a tripulação deixasse alguém dormir. É interrupções para tudo. Mas assim que o avião aterra, substituímos o sono e o desconforto do corpo pela curiosidade de chegar a um sítio desconhecido. As camisolas de lã são despidas ainda dentro do avião, mas a vontade mal se avista luz, é despir também as calças e os ténis. São 6 e tal da manhã, o sol já vai alto, está calor e a humidade é impressionante. 

O aeroporto é mínimo e à volta da sua vedação estão dezenas de crianças a ver quem chega. As burocracias são despachadas rapidamente e mal se põe os pés cá fora é ver gente por todo o lado. Ainda não tínhamos chegado à carrinha do transfere e já tínhamos propostas de inúmeros guias, assim como, crianças a pedir qualquer coisa. Toda a gente a bordo, segue viagem. A maioria das pessoas ia para o Ilhéu das Rolas, mas parámos na cidade de São Tomé para deixarmos algumas e para fazermos uma desnecessária "pausa" de meia hora antes de irmos até ao porto, na ponta sul da ilha. Depois, foram duas horas de viagem para admirar um país tão simples e tão belo. As paisagens são deslumbrantes. É tudo tão verde, tão genuíno, tão selvagem, que ao fim de se ver tantos coqueiros, bananeiras, árvores do cacau, fetos e sei lá eu mais o quê, uma pessoa continua embasbacada com tanta beleza. Há medida que se vai chegando à zona sul, a estrada vai lembrando Sintra, com pequenos muros cheios de musgo e cascatas e descer pelas encostas. Depois há as pessoas. Há gente em todo o lado. Nas aldeias, fora das aldeias e no meio do nada. Nunca vi tanto homem musculado, palavra de honra. E se as paisagens nos fazem esquecer que estamos em África, as rotinas e os hábitos de quem lá vive, não. As mulheres carregam os filhos pequenos nas costas, enquanto acartam na cabeça, alguidares com louça, sacos com côcos ou troncos de madeira. Outras, juntam-se nos rios a lavar roupa e é ver um colorido de tecidos pendurados em rochas, arbustos ou mesmo, na beira da estrada. Os homens, por sua vez, carregam sacos enormes de côcos nas costas e levam na mão, a sua catana. Aliás, quase toda a gente anda de catana na mão e pés descalço. É impressionante os quilómetros que esta gente faz sem nada nos pés.

Estou a reparar agora que este texto já vai longo e ainda nem cheguei ao ilhéu!

Bom, passado duas horas, chegamos ao "porto". Na realidade, é mais um porto de embarque improvisado, mas é o oficial e que eu saiba, o único para chegar ao Ilhéu das Rolas. Entre o sair da carrinha e o entrar no barco, ainda se passaram uns bons minutos, com direito a desafio, já que entrar no barco implica equilíbrio e pouca mariquice (chegámos a temer pelas pessoas de mais idade que iam connosco). Vinte minutos depois chegámos ao ilhéu. O check-in foi feito a despachar (felizmente) já que tudo o que eu queria era deitar-me e curar a dor de cabeça que tinha. Dormi, depois apanhei uma molha até ao restaurante, comi aquilo que viria a ser o meu "vicío", fruta-pão frita, voltei a dormir e só à tarde, quando a chuva parou é que fui conhecer as redondezas.

Não há qualquer perigo de passear na ilha sozinho. É seguir trilhos. Só que às vezes eles ficam pouco visíveis e como não há setas nem indicações para nada, uma pessoa começa a achar que é melhor voltar para trás. Felizmente, o hotel disponibiliza visitas guiadas quase personalizadas. O nosso guia Leno, um puto com uns 18 anos, jóia de moço, levou-nos a todos os pontos da ilha durante 2h30m, por trilhos e por sítios que um dia já foram e que graças a ele, nunca os meus ténis voltarão a ser os mesmos. Mostrou-nos imensas flores, ervas e árvores, explicou-nos o que faziam com elas e contou-nos histórias. Aprende-se muito mais indo com um guia.

A ilha tem o hotel e uma pequeníssima aldeia, onde vivem algumas pessoas que lá trabalham. O resto é floresta tropical e bicharada. Ele é porcos e cabras por todo o lado. É falcões sempre a sobrevoar, garças e outros pássaros que não sei o nome (rolas é que é mas raro). É lagartos e caranguejos que não se desviam das pessoas. E mosquitos. Ao final do primeiro dia, tinha a minha perna esquerda "pintada de bolas vermelhas gigantes".


E o mar... aquele mar é qualquer coisa de maravilhoso. É transparente, umas vezes azul, outras verde mas sempre quente. Não me devo enganar muito quando digo que a temperatura da água ronda dos 30º. Uma pessoa fica de molho durante horas e quando os dedos enrodilhados começam a doer, ficamos ainda mais um pouco, porque custa sair. É verdade que há muita rocha e na maré baixa é difícil tomar banho, mas é tudo uma questão de tempo (e de saber procurar os sítios certos). 

Também a comida é maravilhosa. Embora seja um hotel e haja um esforço para ter comidas mais internacionais, a maioria dos pratos é são tomense. Para além da fruta-pão frita que comi em todas as refeições, comi muito peixe assado e não me esqueço de um arroz de marisco maravilhoso e de um prato de camarão que não percebi o nome, mas comi até rebentar. A falha está nas sobremesas, acho que não comi nada de típico. Ainda assim, não provei pasteis de matabala nem banana prata. Vou ter mesmo de lá voltar!

Resumindo e baralhando, foram quatro maravilhosos dias no ilhéu. As aventuras por São Tomé ficam para um novo post.

O porto de embarque. Aquele era o barco que levava os trabalhadores do hotel e moradores da ilha.

Não se vê bem, mas chovia a potes. Em todos os quartos há chapéus de chuva.


Areia e floresta, lado a lado.

As cabras.

A floresta

Um cemitério de côcos.

O bungalow onde nós e um animal qualquer dormia. Ainda hoje não sei com quem é que dividia a casa.

Um das muitas praias inacessíveis da ilha.

O Leno apanhou e mandou descascar para nós. A água de côco de São Tomé é maravilhosa.

Depois parte-se e come-se.

Praia Bateria. A mais bonita (e inacessível).

Furnas. Não se vê bem, mas há água a subir por aquela rocha.

Apanhei um côco e trouxe-o comigo (xiu...).

Para quem nunca é mordida, foi toda uma experiência nova.

A caminho da minha praia de eleição.

A praia de São António. Horas e horas de molho.

Também é um paraíso de flores.
 
Zona de bungalows do hotel.

Zona da piscina.

Mais flores.

Do outro lado, São Tomé.

A famosa fruta-pão.

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